quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Quero entender

 
Muitos mestres falam Benguela, mas esse "estudo" feito pelo mestre Toni mostra as coisas de maneira diferente. De qualquer maneira, o certo é o que realiza o propósito da comunicação, e as duas palavras indicam o mesmo toque com funcionalidades iguais. 








Banguela


Pra quem não entende inglês, vale muito a pena dos 15 aos 20 segundos.

A Capoeira do Rio de Janeiro

A capoeira no Rio é tratada com menos prestígio do que na Bahia. Enquanto na Bahia a capoeira é vista como manifestação cultural, no Rio de Janeiro temos a visão de que a capoeira é violenta e desleal. Há ainda a visão de que a capoeira é uma dança e não uma luta, mas essa visão não vai ser tratada nesse post. O motivo pelo qual a capoeira foi e ainda é um pouco mal vista no Rio é a maneira como ela era praticada nessa cidade. As maltas de capoeiristas apoiavam diferentes partidos políticos, e seus componentes eram guarda-costas dos políticos, capangas de donos de bordeis, em suma pessoas que estavam constantemente envolvidas com algum tipo de agressão física. Manduca da Praia, ícone da capoeira carioca, respondeu a 27 processos por ferimentos graves e leves, sendo absolvido de todos devido à sua influência.
Avançando um pouco no tempo, mestre Sinhozinho (Agenor Moreira Sampaio) tirou a parte musical da capoeira, mantendo somente as palmas, para enfatizar a eficiência prática da capoeira como luta, seus alunos competiram em torneios de luta livre e praticavam levantamento de peso.
Devido à história da capoeira no Rio antigo, demora-se um pouco mais para podermos entender a capoeira como uma arte e não como algo simplório, ou qualquer outra coisa que se pense sobre ela sem conhecê-la, mas o reconhecimento da capoeira como patrimônio histórico e a disseminação desta por todo o mundo têm mudado bastante a maneira como essa arte é vista.

Diz o ditado: "Não julgue o livro pela capa".

Mestre Cobra Mansa

Let the circle be unbroken

Dupla muito sintonizada

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Capoeira contemporânea

  
O leitor talvez já tenha percebido que eu não tomo uma posição quanto às duas escolas de capoeira mais antigas conhecidas pelos nomes de Angola e Regional. Isso é porque não pratico nenhuma das duas, e sim uma mistura que surgiu da difusão cultural da capoeira pelo Brasil e pelo mundo, agregando ainda mais movimentos de outras lutas, e de outras práticas que não são lutas, como a ginástica olímpica. Os saltos mirabolantes fazem os passantes pararem para prestar atenção, nos casos de rodas públicas, e as apresentações dão lucro aos organizadores. Dentro da capoeira contemporânea podemos encontrar diversas academias diferentes.
A maior parte dos grupos valoriza a capoeira plástica, e muitos valorizam a violência dentro da roda. 
Discordo da plástica pela plástica, pois a função dos chamados floreios deve ser confundir o adversário, ou mesmo atacar (lembro de uma história de meu professor, que certa feita desmaiou uma colega por acidente durante a execução um beija-flor).
Discordo também da violência pela violência, pois a agressão da capoeira deve ser contra o opressor, em situações de risco real, ou diante de situações que exijam que o capoeira revide, como o abuso de sua paciência em uma roda ou algo do tipo (diversas situações podem ocorrer, aqueles que frequentam as rodas entendem).
Os próprios saltos podem ser usados dentro da capoeira, sem perder a displicência e mandinga exclusivas da capoeira. O problema é que muitos alunos aprendem a saltar como ginastas e não incorporam a capoeira. Como muitos mestres incitam a prática de floreios e saltos, muitos alunos ficam sem base ou fundamentos. 
Mais uma vez entra a função do mestre de saber separar o certo do fácil, o verdadeiro do comum.



Dois maiores ícones da capoeira


Manoel dos Reis Machado, mestre Bimba, incrementou à capoeira movimentos oriundos de outras artes marciais, passou a ensinar capoeira dentro de um sistema organizado, coisa que não havia sido estruturada em papel até a época, criando a chamada capoeira Regional. Alguns dizem ser Bimba o grande responsável pela difusão da capoeira pelo mundo inteiro, enquanto outros dizem ser Bimba o responsável pela desvalorização dos fundamentos maliciosos e tradicionais da capoeira. O fato é que a capoeira está aí, e para se fazer uma omelete precisa-se quebrar alguns ovos.


Vicente Ferreira Pastinha, mestre Pastinha, conhecido como o patrono da capoeira Angola, de cunho tradicional, que recebeu esse nome (Angola) depois da criação da capoeira Regional. Apesar de muitos pensarem que a capoeira Angola é praticada apenas com os membros rasteiros ao chão, ela possui os chamados jogo de cima e jogo de baixo, e todos os seus movimentos são originários do Brasil, da própria capoeira. Apesar de ser muito menos conhecida do que a capoeira contemporânea, possui diversos fundamentos pouco conhecidos pela maioria dos mestres de hoje.

Esportismo?

Será que a visão da capoeira como esporte é somente positiva?
Há tempos, a capoeira era praticada por malandros, vadios, estivadores, capangas, etc. Hoje ela é praticada por médicos, advogados, professores ou qualquer outra profissão que não tem necessariamente alguma relação com ela. Até que ponto é possível dividir a capoeira de raiz da capoeira esporte? Até que ponto um mestre consegue filtrar o que dizer para alguns alunos e não para outros? Enquanto me pergunto e lhes pergunto essas questões, certamente pretensos capoeiristas estão aprendendo e ensinando fundamentos infundados, conhecimentos desconhecidos e quebrando a verdadeira prática da capoeira. A minha linha de pensamento vai no sentido de que o mestre precisa se adaptar, porém sem perder suas raízes, sabendo extrair o que há de melhor das inovações, filtrando as práticas que não devem ser cultivadas. A meu ver, a formação de megagrupos contribuiu para a "desfundamentalização" da capoeira, pois em alguns desses grupos muitos instrutores e monitores dão aulas sem a aptidão e/ou conhecimento necessários para exercer tal função. A pressa é inimiga da perfeição, já diziam os velhos. Peço a ajuda com reflexões críticas.
Obrigado.

Mestre Bimba, a capoeira iluminada


Um bom filme sobre o trabalho de Manoel dos Reis Machado, o mestre Bimba, criador da capoeira Regional (que também será muito falada em posts por vir).

Santa Maria, "hino da capoeira regional"


Mestre Bimba, criador da capoeira Regional, reconhecidamente a "escola" que fez a capoeira ser reconhecida como é hoje, dando origem à capoeira contemporânea.

Os entendedores reconhecem a joia rara que é esse video

Violência na capoeira


Mestres Curió, João Pequeno e João Grande, respectivamente, três discípulos de Vicente Ferreira Pastinha, preservador da capoeira tradicional, chamada Capoeira Angola (que será bastante comentada em posts por vir), falando sobre a violência dentro da roda de capoeira.

O que é a capoeira?

A capoeira
É um jogo, é um brinquedo
É se respeitar o medo
É dosar bem a coragem
É uma luta
É manhã de mandingueiro
É o vento no veleiro
Um lamento na senzala
É um berimbau bem tocado
É um corpo arrepiado
Um sorriso de menininho
A capoeira
É o vôo de um passarinho
O bote da cobra coral
Sentir na boca
Todo o gosto do perigo
É sorrir para o inimigo
E apertar a sua mão
A capoeira
É o grito de Zumbi
Ecoando no quilombo
É se levantar do tombo
Antes de chegar ao chão
É o ódio
É a esperança que nasce
Um tapa sutil na face
Que foi arder no coração
Enfim,
É aceitar o desafio
Com vontade de lutar
A capoeira
É um barco pequenino
(Acredito que seja de domínio público)